sábado, 31 de agosto de 2013

O mórbido abismo pueril

 
 
 
 

 
Feito uma criança desajustada,
Feia, inquieta, rejeitada,
Desamparada,
Nadando em profundezas obscuras,
Desesperada,
Desconhecidas e já apavoradas,
Mergulho num abismo,
Que toma conta de todo o cômodo,
Me incendeio de carência, medo e terror,
Dor,
Sem porquês,
Sem entenderes loucura alguma,
Somente o oculto e confuso temor,
Testemunho uma tristeza total,
Isolação e auto rejeição,
O clichê do derrotado antes da guerra,
Deitado ao relento,
Esperando a morte vir me colher de volta a seu leito.

 
É, esta difícil de esconder,
Cada vez mais difícil,
A cada dia mais doloroso,
Mais trabalhoso,
Não aguento mais,
Se me rendo à vida morro,
Se me casto a vida,
Torturo-me e enfim faleço de desgosto,
Não sei o que fazer...

 
A minha maior riqueza é vergonhosa,
O meu maior tesouro, queria que fosse compartilhado,
Mas foi trancafiado, a sete chaves,
E enterrado, a sete palmos,
Assim dado como morto, sujo,
Num baú que ninguém nunca deveria ter tocado,
Muito menos achado e desenterrado,
Que não deveria permitir ter olhado,
Mas que eu em segredo rezava para acontecer todos os dias,
Cavava e seguia as cegas todas as pistas,
Sonhava com esperanças,
De um alguém algum dia resgatá-lo,
Mas que em público gritava aos sete ventos que não o faria,
Assim pra agrada-los,
Para receber uma benção na testa e um aperto de mão,
Um tapinha nas costas cretino,
Que pouco me aliviava,
Que nada me confortava,
Então logo me predispunha a concorrer mais um,
Sempre com mais veemência e necessidade,
Como cachorro treinado,
Abana o rabo e faz truques,
Implorando carinho e mente que é feliz,

 
Ironicamente,
Não desejo mais tapinhas,
Não anseio mais por apertos de mão,
Tampouco bênçãos,
Nem mesmo exijo ou demando carinho,
Mas hoje,  quero compartilhar o antigo tesouro,
Que desenterro e abraço,
Vou devolvê-lo ao peito,
E recuperar o tempo perdido,

Quero comprar  de todo o planeta as más lembranças,
E poupar todas as internas crianças,
De aniquilarem seus tesouros como aniquilei,
Poupá-los de sofrer como sofri,
De se rejeitarem como me rejeitei,
Contar as histórias que sei para que enfim entendam,
O que eu ainda também não posso entender,
Mas que já posso sentir e talvez prever,
Que irei aquecê-los, acalentá-los e acalmá-los,
Por que sei como dói sobreviver sem realmente nunca  ter vivido...
 
Martini.
 

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